terça-feira, 2 de julho de 2013

A Minha Cidade

Não conheço o sitio onde estou, parece um auditório com uma aula ou algo do género. No quadro, está uma frase que não consigo perceber bem, meio rasurada e com correções. Lembro-me que fiquei feliz por conseguir ler num sonho. No entanto, só me lembro de duas palavras, "get" e "gotcha", a primeira escrita a vermelho, a segunda rasurada.
O cenário muda, estou a andar num jipe com rodas grande e capota, parece uma fusão entre uma moto 4 e um monster truck. O cenário é escuro e a atmosfera pesada. Passamos por um grupo de soldados, eu e o condutor do jipe. Eles parecem vir com um ar desolado, e nem se preocupam com a nossa passagem, só querem ir para uma sala ampla que mais faz lembrar um refeitório. Não reconheço este lugar, não me lembro de alguma vez ter estado aqui, no entanto quem conduz o carro parece saber. Pelo tipo de descontração, confiança e poder que demonstra parece ser algum tenente ou ocupar uma posição qualquer mais elevada.
Ao contornar o edifício, o espaço muda. Entramos num sitio onde aparenta ter havido uma batalha. Encontram-se corpos caídos no chão, com a mesma vestimenta que os soltados que tínhamos visto antes. A diferença é que estes soldados parecem do tamanho de bonecos de toy story ao pé das rodas do jipe. Preocupa-me que as rodas possam passar por cima de algum dos corpos. Avançamos um pouco, até ouvir uma voz sem corpo, a dizer para pararmos.
À medida que ele fala, acende-se algo que parecem holofotes, e o meu campo de visão alarga. logo a seguir ao jipe, está um abismo, que não parece muito seguro, com aspeto de poder haver deslizamento de terras se se aproximarmos do fim. Consigo ver lá em baixo os seres que são o inimigo. Devem ser eles os responsáveis pelos corpos que estão no chão. Apesar de terem forma humanoide, estes seres não parecem humanos. Têm vestido umas túnicas castanhas, a tapar o corpo até aos pés, e na cara ao invés de mostrarem os olhos usam máscaras, que quase parecem mascaras de gás, e que têm um circulo laranja radiante no centro de onde deveriam estar os olhos. Fico aterrorizado ao ver o que se passa lá em baixo, à medida que os vejo a cortar algo que parecem pedaços de corpos. Lá no meio estão pedaços de tentáculos cortados, com a espessura de um braço. Saímos dali rapidamente, e ficamos a saber que o fim está próximo. Apesar de eles não conseguirem subir para a cidade, sei através de alguém que estão a planear um ataque pelo interior, por debaixo da terra, e que não temos meios de o evitar. Agora percebo o ar de desolação dos soldados pelos quais passei.
Ao mesmo tempo que saímos dali, fico com uma sensação de impotência, por não ter nada nas mãos, saber que o fim está próximo, e não ter meios nem forma de o impedir.
Sigo agora a mesma pessoa que estava a conduzir, mas agora a pé. Vamos por um caminho alternativo, que dá para evitar os seres estranhos que ocupam a base desértica do precipício.
Chegamos finalmente a um sitio onde se vê ruas cheias de gente, estamos já tão perto que quase conseguimos ver a cara das pessoas. Reparo numa mulher que tem um lenço azul na cabeça, enrolado como se fosse tipicamente árabe. Também todo o cenário é meio desértico, com tons castanhos e alaranjados. Terra, rocha e areia. As casas destas pessoas são feitas diretamente nas rochas que estão atrás delas, muralhas de pedra demasiado altas para algum humano conseguir trepar, têm janelas e varandas esculpidas. Agora, tenho esperança de poder salvar a nossa cidade. Eles são humanos como nós, podemos-se unir contra o povo que nos quer destruir por dentro. Se lá chegarmos podemos pedir ajuda.
O pânico instaura-se nesta cidade, do meio das casas esculpidas na rocha sai um vorme gigante, com o corpo todo coberto de escamas pretas e laranja, semelhantes às que cobrem o corpo de um pangolim. O tipo de destruição e opressão faz também lembrar os monstros do filme palpitações. Incrível como o monstro destruiu rocha maciça com as suas mandíbulas, como se se tratasse de uma pessoa a devorar ruffles. À medida que a cidade vizinha se desmorona, com ela vai toda a esperança de salvarmos a nossa.
Saímos rapidamente dali, e voltamos à nossa cidade. Eu sigo novamente a mesma pessoa até uma sala quente e onde se encontram mais outras duas pessoas de aspeto normal, e que parecem não saber de nada do que se passa fora daquela sala. De nós os quatro, eu pareço ser o único que está preocupado com a iminente destruição da cidade em que estamos. Ao invés de estarmos a tentar encontrar um plano para nos salvar dos seres de aspeto invulgar, o tema de conversa é um trabalho de grupo que se tem de fazer, e que ninguém está com vontade de fazer. Quem eu estive a seguir não fala, mas eu sei o que pensa, ele acha que é melhor assim, que eles vivam descontraídos e na ignorância, sem se preocupar que tudo pode cair a qualquer momento.
Eu quero-me ir embora, mas oferecem-me gelados para eu ficar. Um pequeno pedaço de um gelado azul, que pela consistência mais parece bolo, um pedaço de gelado cor de rosa, e outro pedaço de gelado branco, que parece ser bom. Eu fico reticente em relação ao gelado azul, mas dizem-me que é bom, e que o adoram.
Acordo quando vou provar o gelado azul, com desejo de comer gelado, e com o sabor amargo de eminente destruição.

sábado, 18 de maio de 2013

2013.05.18 Deriva


Já passaram tantos dias que acabei por perder a conta. Agora, este pedaço de papel é o que me separa da sanidade e da loucura. Um homem não foi feito para passar a vida no mar. Aqui, onde quer que olhe, tudo é azul. Voltando atrás, não consigo ainda compreender o que me levou a entrar neste barco. A vontade de encontrar alguma coisa estava bem presente, mas, no final de contas, isso era apenas uma desculpa de fugir de mim próprio. Agora, neste barco à deriva, sem vislumbrar terra, acabei por me esquecer de quem era e do que estava a fugir. O doce embalar das ondas acaricia me os sentidos, à medida que o tempo passa. No entanto, não me vou lamuriar de ter entrado no barco. Acabei por trocar uma vida em comunidade por um pedaço de madeira, levando-me por um trilho solitário. Não podia ser de outra forma.
Em como todas as histórias, tem de haver um fim. Hoje, algo mudou na paisagem, e acabei por reparar em sinais de fumo marcados no ar, perto da linha do horizonte. Posso ser de um avião, pode ser margem firme. Nesta altura, mas nada me importa a não ser abrir as velas e ir em direcção ao sinal. Quero acreditar que algo bom provirá daí, esperando que não seja outra das minhas ilusões criadas pelo sol forte que acompanha os meus dias.

2013.05.10 Anti-mesquinhice

Por mais que tente, não consigo compreender porque é que há pessoas que recorrem a criticar o próximo, em vez de olhar para si próprio. Nota de redacção, isto pode ser considerado criticar o próximo  mas na verdade é apenas o expor de uma ideia, de que a ação de criticar o próximo não passa de um facilitismo, de forma a proteger o ego. De certa forma, ao criticar alguém estamos a diminui-lo, a torna-lo insignificante e merecedor de repulsa, porque é diferente, ou porque agiu de forma diferente, ou porque tem ideias diferentes. Não se pode dizer que isto seja algo novo. Desde o tempo antigos que as pessoas se viravam para excluir alguém  e ate matar, só porque pensava de forma diferente. Tomo o Copérnico como exemplo. Parece o síndrome de rebanho, em que têm todos de seguir o mesmo padrão, o mesmo trilho, sem espaço para a criação de algo que saia da caixa, e que dê que pensar. Pessoalmente, recuso-me a seguir por o caminho de criticar, a não ser que seja uma critica frontal e construtiva. Nada como o criticismo que estou a falar, que é proferido de forma a que o orador se sinta bem com ele próprio  por o outro ser parvo ou estúpido, só por ter algo diferente, seja isso uma peça de roupa, uma ideia, uma crença, uma forma de estar. Toda a gente tem as suas razões, mas nem toda a gente é dotada de razão. I'm not here to change the world, e já vem desde há muito tempo que a galinha do vizinho é sempre melhor que a minha. Talvez este criticismo resulte como um rating, de forma a desvalorizar a tal galinha melhor, sendo mais facil de a adquirir, em vez de simplesmente se questionar: o que é que eu posso fazer para ter uma galinha melhor?

2013.05.09 A pequena caixa

E como tudo na vida, a historia começa com um inicio. Uma travessia planeada, um resultado inesperado  uma conclusão enigmática. A travessia de em alguém  que corre, na busca de conseguir o seu objectivo  Ate aqui tudo parece normal, não fosse o eu ter ficado pelo caminho enquanto o objectivo foi cumprido. Para trás  ficou um ser que pensava em desistir  em desaparecer, que mutou quando descobriu a caixa. Pondo por outras palavras, a fuga tornou-se uma aventura, e ele não regressou o mesmo depois de a abrir. Aos poucos, a essencia que estava oculta, passou da caixa para um seu corpo, como inspirar uma leve brisa que passa por um campo de rosas. Por instantes, todo o seu corpo se libertou das correntes que oprimem o ser, ate que a caixa se fechou novamente, guardando as correntes e deixando fluir pelo corpo uma energia nova, pura, impulsionadora. Esta energia, no entanto, cessava, de cada vez que ele fechava a caixa. E como no ciclo de precipitação da agua, o que era antes solido como o gelo passou para uma forma indefenida. Tudo acabou, com umas leves passadas no asfalto, e com a curiosidade acesa sobre o que se esconde dentro de tão inusitado artefacto.

2013.05.08 Compras

Um coração solitário deambula pela cidade. Esta, reflete a cor que falta aos seus olhos. A mente move-se com a mesma destreza e acuidade do costume. O corpo desliza com vontade própria  independente da mente, saindo do planeado. Uma viagem surpresa a um sitio habitual, e o pouco usual acontece.

Nos provadores ao lado, um casal experimenta roupa juntos, a a mulher começa a falar da sua "pachacha" e de como gostaria de  a usar naquele lugar, obtendo uma reação tímida e reticente em resposta, falando das pessoas e que podem saber. A divisória de madeira ao meu lado abana com um encontrão, enquanto ela volta a falar da sua "pachacha" e diz "ate os bichinhos gostam". No entanto, a resposta que obteve não foi a esperada, estar num sitio público nao o deixava à vontade, e ela repete duas vezes "eu quero é que as pessoas se fodam", seguido de um "achas que têm um detetor de fodas aqui?" após nova resposta negativa. Ela volta a experimentar uma mini saia, e diz que nada lhe fica bem. A conversa amaina e ficam a falar de roupa. Passado algum tempo, depois de sair do provador, os meus olhos procuram quem poderiam ser os donos das vozes. Um casal esta na fila para pagar, olhando em volta, tentando perceber se alguém os ouviu. E a minha atenção dispersou-se, voltando a elaborar um plano de visita e saída do centro comercial, passando pelos sítios principais.

2013.05.07 Acabar antes de começar


Parece que tudo acabou. Com a mesma velocidade com que se criou. Ao sabor do vento, o espaço cresceu e tornou-se abismo. Uma década passou desde a ultima vez que a vi. Lembro-me como se fosse ontem, ela a desaparecer sem olhar para mim, como se eu não existisse.
Esse momento ficou cravado no meu ser, com tanta intensidade, que acabei por desaparecer. Agora sou outra pessoa. Da década passada sobrou um espaço vazio, oculto pela sombra do tempo. Agora, tento-me manter seguro, lembrando-me do abismo. Mais uma década  e a areia que piso irá mudar de lugar. A ira do vento é implacável, e areia é o que não falta neste lugar desde que abandonei o templo.
Quando parti, nunca me ocorreu que pudesse apanhar areias movediças neste lugar. Pode-me ter custado a carga que trazia às costas, mas voltarei a atravessar o abismo assim que a areia se instalar. Tem de haver um oásis neste lugar, e já faz algum tempo desde que a ultima gota de agua desapareceu do cantil.
O vento sibila à distancia, aproxima-se uma tempestade.

2013.04.25 The weight of time


I'm everything, and nothing, at the same time.

On this city, as I walk, past, present and future mix together. In this place, that is the rule of the world. The various stages of time only exist if you think about them. After all, when the sun sets, they're only words.

A small child wonders - how can they all be one? That's the same thing as telling me I'm old and young at the same time.

The older one, holding his hand, stops at red light, as some cars pass in front of him. He turns, and look at the child with a broad grin as he starts to talk:

- You see, you hadn't been in this world to know that, after all, it's only words. The essence of each word is given by each word, in different rates. For instance, and probably not the best example, you can say you love someone. That, by it's own, can bring a lot of different interpretations, but what remains, is beyond words.

- Oh, I see. That makes sense, it's very different to say that I love mom then to say I love popcorns. - Says the children delighted.

- Exactly, you're a fast learner.

- Still, you did't answer to my question. Hom can the past, present and future be the same?

- We'll get there - The light turns green and they pass the road, following the path to the train. - You know, you first exist, and then you learn words. That's how it works. The only time that exists at that stage of life is the present, what's happening, now. - A pidgeon passes  close to them as they aproach the railway. - And that, is the only time that exists.

- What about the past and the future? - The children seems confused, and he's not happy with an half answer.

- One thing at a time. You remember when you had fallen from the orange tree last week, right?

- How could I forget. - the children looks at the markings in his right arm - I'll never go on top of a weak branch again, that's for sure!

- You see, there's your answer. The past, is something that only exists in you, now. You either learn from it, grieve from it, laugh from it. And it's different to every one that's alive. You can say that it's the foundation that sustain the being. Same can be said about the future. The same word has different meanings accordingly to each people. Briefly, the future is someone's dreams, hopes and expectations. Or it can be someone's fears and trepidation. It'll all end up defining who you are, now. And that's why they're all the same.

- Great, the train is arriving, I can't wait to get home, I bet mom has a nice meal waiting for us. Or, as you say, I'm already home.